quinta-feira, 6 de agosto de 2015

Praias de Ilhéus: Futebol e Fumacê






Juventino Ribeiro





O último fim de semana, segundo os noticiários, brindou quase todos os quadrantes do Brasil com céu de brigadeiro e temperatura amena. Em Ilhéus não foi diferente. O dia esteve convidativo para uma boa caminhada pelas praias.

Foi o que fiz. Percorri as praias da Av. Litorânea Norte e da Av. Soares Lopes. Vi inúmeras equipes a disputar os tradicionais babas semanais e quinzenais, nos quais veteranos atletas ainda se esforçam atrás da redondinha, esquecendo-se do peso dos anos e das limitações a que estão subjugados.

Ao ver aquela gente de brancas cabeleiras, iguais à minha, se desdobrando na prática futebolística, lembrei-me do que dissera, com certo ressentimento, um veterano globetrotter durante uma entrevista a um canal de televisão: sometimes the head says go, but the legs say no. Ele apenas confirmava uma realidade para desportistas de idade avançada: às vezes, a cabeça diz vá, mas as pernas dizem não.

Mas é assim nos babas das praias de Ilhéus: cada qual com suas habilidades e limitações físicas, todos querendo vencer a partida. Muitos xingamentos pelo exagero nas disputas, pela assistência não contemplada ou pela falta não assinalada pelo juiz.

Ao final, comentários sobre os lances, muita resenha, muita cordialidade e muito companheirismo são o saldo positivo de mais um domingo na praia, onde todos foram descarregar o stress e recarregar suas baterias para mais uma semana de luta pela sobrevivência.

Vi também meu amigo holandês, Henk, que é também técnico de futebol,  submetendo dois pupilos de 17 e 19 anos a forte e disciplinado treinamento, visando a lhes manter em condicionamento físico. Os meninos, zagueiro e meio campista, estão a ir para a Suiça e Noruega para cumprirem uma temporada, mediante contrato como jogadores profissionais.

Uma velhinha, à margem do campo, vendia laranjas, água e suco. Enquanto eu comia duas laranjas oferecidas pelo amigo atleta Garrincha, ouvia lamentos daquela boa senhora, de que no baba estava a faltar Seu Luiz, vítima de AVC. Lamentava-se, também, por sua irmã que naquele exato momento (11h30) era enterrada em São Paulo, também vítima de AVC.

Vidas que seguem: boas para os atletas do bem que para ali acorrem em busca de sadio lazer; ruins para aqueles que, limitados por doenças, se privam daquele sadio convívio; péssimas para alguns que para ali acorrem somente para, descaradamente, fumar suas porcarias, cujo fumacê incomoda o sensível nariz daquela boa velhinha, vendedora de laranjas. É quase certo que um trágico fim os espera. Que assim seja!

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