Juventino Ribeiro
O último fim de
semana, segundo os noticiários, brindou quase todos os quadrantes do Brasil com
céu de brigadeiro e temperatura amena. Em Ilhéus não foi diferente. O dia
esteve convidativo para uma boa caminhada pelas praias.
Foi o que fiz.
Percorri as praias da Av. Litorânea Norte e da Av. Soares Lopes. Vi inúmeras
equipes a disputar os tradicionais babas semanais e quinzenais, nos quais veteranos
atletas ainda se esforçam atrás da redondinha, esquecendo-se do peso dos anos e
das limitações a que estão subjugados.
Ao ver aquela gente
de brancas cabeleiras, iguais à minha, se desdobrando na prática futebolística,
lembrei-me do que dissera, com certo ressentimento, um veterano globetrotter durante uma entrevista a um
canal de televisão: sometimes the head
says go, but the legs say no. Ele apenas confirmava uma realidade para
desportistas de idade avançada: às vezes,
a cabeça diz vá, mas as pernas dizem não.
Mas é assim nos
babas das praias de Ilhéus: cada qual com suas habilidades e limitações
físicas, todos querendo vencer a partida. Muitos xingamentos pelo exagero nas
disputas, pela assistência não contemplada ou pela falta não assinalada pelo
juiz.
Ao final, comentários
sobre os lances, muita resenha, muita cordialidade e muito companheirismo são o
saldo positivo de mais um domingo na praia, onde todos foram descarregar o stress e recarregar suas baterias para
mais uma semana de luta pela sobrevivência.
Vi também meu amigo
holandês, Henk, que é também técnico de futebol, submetendo dois pupilos de 17 e 19 anos a
forte e disciplinado treinamento, visando a lhes manter em condicionamento
físico. Os meninos, zagueiro e meio campista, estão a ir para a Suiça e Noruega
para cumprirem uma temporada, mediante contrato como jogadores profissionais.
Uma velhinha, à
margem do campo, vendia laranjas, água e suco. Enquanto eu comia duas laranjas
oferecidas pelo amigo atleta Garrincha, ouvia lamentos daquela boa senhora, de que
no baba estava a faltar Seu Luiz, vítima de AVC. Lamentava-se, também, por sua
irmã que naquele exato momento (11h30) era enterrada em São Paulo, também
vítima de AVC.
Vidas que seguem:
boas para os atletas do bem que para ali acorrem em busca de sadio lazer; ruins
para aqueles que, limitados por doenças, se privam daquele sadio convívio;
péssimas para alguns que para ali acorrem somente para, descaradamente, fumar
suas porcarias, cujo fumacê incomoda
o sensível nariz daquela boa velhinha, vendedora de laranjas. É quase certo que
um trágico fim os espera. Que assim seja!
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