terça-feira, 1 de setembro de 2015

O COMENTARISTA E CLEÓPATRA






Jano Ribeiro





Antônio Magno, ou Magno Bucetinha, transformou-se numa figura folclórica nos meios futebolísticos de Ilhéus, fazendo os trabalhos de locução auxiliar às margens dos campos de futebol.

O irmão, Banga, sempre foi famoso por ser extremamente trançado em suas transações para sobrevivência. Organizava vaquejadas, cavalgadas e outros eventos como meios para angariar seu sustento. 

Em 1994, Banga organizou uma vaquejada no Distrito de Sambaituba e me convidou para ser jurado. Sentia-se em casa, pois ali exercera o cargo de Delegado Calça Curta, indicado por seu padrinho político, de Salvador. 

Algumas vezes tais eventos terminavam em brigas com credores a lhe ameaçar, tendo até ocorrido casos de graves agressões. Não obstante, Banga tem um coração tão grande e acolhedor, que não lhe cabe no peito. Aliás, esta é uma característica dos membros da estimada família Queiroz.

Seu primo, Vivaldo Queiroz, tinha habilidade com a bola. Sabia tratá-la como merece. Por ser de baixa estatura e físico desprovido de proeminência, nos relvados adquiriu o apelido de Peninha. 

Dino, irmão de Peninha, mesmo sem habilidade com a pelota, nunca quis se afastar do desporto. Teve suas incursões como apitador de peladas, como cartola de clubes amadores e foi até Diretor de Patrimônio do Colo Colo de Ilhéus, em 1999.

Mas as transmissões radiofônicas de jogos de futebol eram o métier de Magno Bucetinha. O locutor o acionava para ilustrar determinada jogada: “Quase, quase gol. Você viu, Magno, por onde a bola passou? Vi, sim, passou rasteirinha, rasteirinha, por ciiiiiiima do travessão”. Certa vez, o comentarista, Seara Costa, lhe perguntou: “Você viu, Magno, o cacete do Parará”? Ao que Magno prontamente respondeu: ”Vi, sim, peguei no lance”. O cacete a que o Seara se referia fora o forte chute desferido pelo jogador Parará, mas a galera, maldosamente, desviou o significado da locução.

Conta-se, ainda, que Magno estava no relvado a entrevistar um jogador. Uma chuvinha teimosa havia enlameado a cancha e o fio desencapado do microfone mergulhou numa poça d´água e lhe transmitiu um tremendo choque (esticão, como se diz em outros países lusófonos). Por pouco o Bucetinha estaria a comentar partidas de futebol além das estrelas.

Um desastre que se comenta a meia boca, refere-se a uma atrapalhada que ele armou em casa. A andar pela rua, deparou-se com um vendedor de CDs e DVDs piratas. Olhou alguns DVDs, despretensiosamente, até que escolheu Cleópatra. Olhou, olhou e perguntou ao vendedor: “Presta? É bom mesmo?” Ao que o vendedor lhe respondeu: “O senhor não vai se arrepender. É Muito bom.”

Pagou e saiu a planejar. Passou no mercadinho, comprou milho de pipoca, 3 frascos grandes de refrigerante, alguns bombons e seguiu para casa. Acomodou os refrigerantes no congelador e disse: “Mulher, prepare muitas pipocas, porque trouxe um filme para ver com a família.” A mulher indagou: “Vixe, que filme é esse que merece tanto aparato?”

“Trata-se de Cleópatra, a famosa rainha do antigo Egito. É história da antiguidade, que todos precisam saber. Cai até nos vestibulares”.

Colocou a bacia de pipoca e refrigerantes na mesinha de centro, ligou a TV e o DVD Player. Pediu que todos se acomodassem e fizessem silêncio, pois o filme era uma verdadeira aula de história universal. Apertou o play e apareceu Cleópatra peladona com um brutamonte de um negão bem dotado, igualmente peladão, mostrando um membro maior do que o palmo de Neném Prancha. E o mundo desabou sobre a cabeça de Magno!

Mostrando-se todo desconsertado, apressou-se em desmontar o aparato, mas o desastre já se havia consumado. O filho maiorzinho ainda tentou remediar, em tom sarcástico: “Pai, liga não. Passa depois só pra nós dois”.

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