terça-feira, 19 de maio de 2009

Gravidez atlética






João Paulo Garcia







Praticar exercícios durante a gestação só faz bem à saúde da mulher e de seu filho, mas, para isso, é importante tomar os cuidados certos.





Embora se ouça muito falar das benesses que os exercícios proporcionam à saúde em geral, pouco se comenta sobre a importância das atividades físicas durante a gravidez.“Parte das gestantes até sabe dos benefícios, mas têm certo receio.






Depois que você esclarece as dúvidas delas, isso muda: elas ficam mais confiantes e a atividade segue bem”, conta Edgar Nunes, especialista em fisioterapia esportiva e médico do Hospital Santa Catarina. “Normalmente, as que procuram já praticam três vezes por semana no mínimo e não querem parar”, relata.

De acordo com Nunes, o ideal durante a gravidez é praticar atividades variadas e que trabalhem diferentes partes do corpo, como exercício aeróbico, alongamento muscular, fortalecimento, caminhada, bicicleta ergométrica, fortalecimento de abdômen, lombar e membros superiores e inferiores.
Todo esse cuidado com o corpo durante a gestação só traz benefícios, como um melhor controle do peso, maior equilíbrio emocional e até um parto mais fácil, além de uma recuperação mais rápida.

Mas, antes de tudo, é importante entender o que acontece durante a gravidez, para, dessa forma, se exercitar da melhor maneira possível.


Modificações corporais


Durante a gestação, ocorrem algumas alterações na postura da mulher. Para aumentar sua base de sustentação, a gestante fica com as pernas mais afastadas. Também ocorre a hiperlordose – quando os glúteos ficam empinados – reação causada pela sobrecarga de peso na região lombar. Outra mudança é na posição dos ombros, que, assim como a cabeça, vão para frente, por conta do aumento de peso na barriga, que precisa ser compensado. Junto com tudo isso, vem a mudança do centro de gravidade, que pode aumentar o risco de quedas durante o exercício.

Junto com as modificações posturais, a mulher, por conta da predominância de progesterona, fica em um estado de constante relaxamento. Durante essa fase, o risco de contusões nas juntas também aumenta. A produção deste hormônio dura até o final da amamentação, geralmente por volta dos seis meses de idade do bebê.

Ciclismo e outros exercícios

Entretanto, como o ciclismo é um esporte de impacto reduzido, “não apresenta risco para as articulações. Já em uma caminhada, há o risco de torcer o pé, caso o terreno seja irregular”, informa Edgar Nunes. No entanto, durante a pedalada há risco de queda, que merece atenção especial. “Com quatro meses de gestação, comecei a dar pedais de uma hora. Por causa do medo de cair e ter um aborto ou descolamento de placenta, eu ia bem devagar, geralmente no asfalto”, conta a ex-mountain biker profissional Gabriela Morelli, de 32 anos, e mãe de Francisco, de dez meses, que só deixou de lado a bike quando sua barriga não lhe permitia mais subir no selim, aos seis meses de gestação.

Para substituir a bicicleta, Gabriela começou a praticar hidroginástica para gestantes. “Foi onde eu me adaptei melhor e fiz até os nove meses”, conta. Pela ausência de impacto e diminuição do peso dentro da água, “a hidroginástica é a atividade mais recomendada”, diz Nunes, que percebe também uma procura grande pelo pilates. “Embora parte disso seja por moda, é uma atividade muito indicada, por que trabalha a região pélvica, lombar e abdominal. Facilita o parto, a sustentação, diminui a dor na recuperação, que fica mais rápida”, conta

O Emocional

O lado emocional também se beneficia muito com hábitos saudáveis. “A atividade física produz endorfina, um hormônio que age como um antidepressivo natural, aumenta a resistência à dor e melhora o humor”, explica o obstreta da maternidade Santa Catarina Antonio Julio Barbosa.

Recuperação

Mas antes de sair pedalando novamente, deve-se respeitar o período de recuperação do parto, que é de 30 a 40 dias para parto normal e de dois meses para cesárea. Contudo, a prática de exercícios antes e durante a gestação torna mais rápida e mais fácil essa fase.

“Como no meu caso foi cesárea, não passei por contração, mas senti que a recuperação pós-cirúrgica foi muito melhor e mais rápida. Meia hora depois do parto eu já conseguia mexer as pernas e à noite eu já conseguia andar”, relata Gabriela, que também teve boa resistência à dor. “No primeiro dia, tomei remédios para a dor, que eram muito fortes, mas só comprimidos, nada nas veias. Já no dia seguinte não tomei nada”.

Além disso, a volta ao pedal não é tão simples, embora venha acompanhada de vantagens. “Eu pedalava duas vezes por semana, uma horinha, só girando, e nas primeiras duas semanas foi bem difícil: eu sentia muita dor nas nádegas, nas costas, cansava na subida. Nosso cérebro continua funcionando como de atleta, mas o corpo não responde”, conta Gabriela. “Mas isso foi muito bom para mim, porque, quando você é mãe, você vive para o seu filho, fica o tempo todo com ele. E se você não faz outra coisa, isso causa um estresse muito grande na mulher. Então, três vezes por semana eu tinha meu tempo, quando eu refrescava a cabeça e que me fazia voltar mais animada pra cuidar dele”, completa.

Cuidados e contra-indicações
Embora a prática de exercícios durante a gestação faça muito bem para a saúde da mulher, é importante, sobretudo, tomar os cuidados necessários para evitar qualquer risco que possa pôr a saúde da mãe e do bebê em risco. Além de evitar as quedas, “é importante reduzir o ritmo do exercício no segundo e terceiro trimestres, pois a exigência que o coração e a vasacularização têm são maiores”, enfatiza Barbosa. Estudos recentes também demonstram que a atividade física intensa durante a gestação pode fazer com que o bebê nasça com um peso menor que o normal.

“Também é preciso prestar atenção à hidratação durante o exercício, repousar bem, evitar hipertermia, evitar ambiente húmido e quente, usar roupas confortáveis, evitar, de qualquer jeito, o impacto na região abdominal”, previne Barbosa. Também é importante ficar alerta se a mulher sente tontura ou náusea durante a atividade – e ela não pode se sentir cansada. Caso isso aconteça, é necessário diminuir o ritmo.

No entanto, mulheres que tenham diabetes tipo 1 e 2, problemas cardiovasculares, sangramento no primeiro trimestre ou alguma patologia cardíaca devem evitar a atividade física.

O acompanhamento nutricional e obstétrico, feito normalmente uma ou duas vezes por mês, é imprescindível. Mas o acompanhamento da atividade física deve ser mais frequente e o contato entre o fisioterapeuta ou educador físico e o médico da gestante é imprescindível. “É importante a interdisciplinaridade para o bem da grávida e do bebê”, afirma o obstetra.

“Qualquer atividade que seja bem prescrita tem riscos mínimos”, fala Antonio Barbosa. Se feitos com os cuidados necessários e com o acompanhamento correto, os exercícios físicos só proporcionam vantagens à saúde da gestante e de seu filho.

Fonte: site prologo

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