sexta-feira, 24 de julho de 2009

Pelé achou fama mas não fortuna




Augusto Junior




O Wall Street Journal publica artigo de Matthew Futterman que sugere que Pelé "achou fama, mas não fortuna". Essa frase-símbolo foi publicada na edição em inglês. Reproduzo agora o texto na íntegra traduzido para o site em versão português do jornal especializado em finanças. Confira abaixo:

Pelé pode ser o maior jogador de todos os tempos do esporte mais popular do planeta, mas ainda está tentando garantir uma renda aos 68 anos.

Ele acaba de assinar um acordo de merchandising com a Nomis, uma pouco conhecida fabricante suíça de chuteiras, num lance que pode ser um golaço — ou mais um exemplo de uma longa lista de negócios cujo histórico é tão irregular quanto os gols dele foram sublimes.

No gramado, o legado de Pelé não tem praticamente rivais na história moderna dos esportes internacionais, como vencedor de três Copas do Mundo e autor de quase 1.300 gols numa carreira que se estendeu por três décadas. Mas desde sua aposentadoria, 32 anos atrás, Pelé não conseguiu transformar sua fama na imensa fortuna que outros superastros como Michael Jordan têm hoje.

De certo modo Pelé é ele mesmo responsável por não capitalizar seu status de superastro. Apesar de várias abordagens, ele nunca atuou como técnico ou executivo de alto escalão de um clube ou foi além de algumas incursões no universo das celebridades da TV.

Mas as circunstâncias de Pelé também podem ser atribuídas ao ano de seu nascimento, já que sua carreira terminou pouco antes do surgimento dos titãs modernos do marketing esportivo, que ao longo do tempo produziram uma corrida entre o astro do basquete LeBron James e o golfista Tiger Woods para ver quem será o primeiro atleta bilionário. David Beckham, o jogador de futebol mais bem pago do mundo, recebeu uma soma estimada em US$ 45 milhões no ano passado em salário e contratos publicitários. O maior contrato de Pelé, por sua vez, foi o do Cosmos de Nova York, em 1975, que lhe rendia o equivalente a US$ 4,5 milhões por ano.

As tentativas de Pelé de faturar no mundo dos negócios não renderam o esperado. Ele foi dono de uma construtora que faliu e de uma firma de marketing esportivo que quebrou em meio a um escândalo financeiro. Seus contratos publicitários incluíram uma linha de artigos esportivos retrô da Puma em 2005 que não fizeram sucesso. E quando se tornou o garoto-propaganda do Viagra, a droga para disfunção erétil, Pelé convocou uma coletiva de imprensa para garantir que não precisava do remédio mas o usaria se precisasse.

O Rei do Futebol diz que não guarda mágoas por ter nascido em outra época ou por suas escolhas de negócios, mesmo que isso o tenha deixado lutando para faturar numa idade em que os atuais superastros podem ter pouco mais a fazer do que contar o dinheiro.

"As carreiras deles são curtas, por isso precisam ganhar muito dinheiro", disse. Mas ele lamentou que a promessa do dinheiro motive os principais jogadores do mundo hoje, em vez do amor pelo jogo que o moveu. "Um garoto que joga por dinheiro vai pra todo canto e não está preocupado com seu esporte ou seu time."

Agora há o acordo com a Nomis — a mais nova tentativa de Pelé de se transformar num império de marca em vez de simplesmente associar-se com empresas e produtos estabelecidos. Há vários Cafés Pelé no Brasil, talvez um filme sobre a história do jogador e planos para um videogame e um desenho animado na Índia. Tudo isso suscita a questão de se um quase septuagenário ainda tem força mercadológica para competir com superastros que têm um terço de sua idade numa indústria dominada pela juventude. Em outras palavras: será que um garoto espanhol de nove anos vai querer comprar chuteiras do Pelé ou do Lionel Messi?

Pelé não tem dúvida de que ainda pode garantir o seu.

"Minha carreira dá a minha marca valores e atributos positivos e uma mensagem que passa de geração a geração", disse ele, por meio de um intérprete, ao Wall Street Journal na semana passada. "Não é como a de atletas que hoje estão no auge e então começam a jogar mal. Em minha carreira, consegui tudo. Minha mensagem é clara de geração a geração. Pelé é uma garantia."

Se as chuteiras e outros empreendimentos de licenciamento potenciais se tornarem um sucesso, Pelé poderá finalmente ter a chance de amealhar o tipo de fortuna que nunca conseguiu. Pelé tornou-se um astro mundial em 1958, quando, aos 17 anos, marcou seis gols nos últimos quatro jogos do Brasil na Copa do Mundo. Na aposentadoria, porém, Pelé tem trabalhado principalmente como embaixador mundial para o futebol e atuado em favor da ONU.

Três anos atrás, Paulo Ferreira, diretor-presidente da Prime Licensing, empresa do Rio originalmente encarregada de criar e vender a marca Pelé, previu que o jogador se tornaria rapidamente um negócio de US$ 100 milhões por ano. Isso não aconteceu, embora Ferreira argumente que a nova parceria de Pelé com a agência de marketing esportivo IMG Worldwide vai finalmente ajudá-lo a atingir todo seu potencial de marketing. "Pelé é muito forte para bens de consumo, entretenimento e também empreendimentos imobiliários", diz Ferreira.

Simon Skirrow, o fundador da Nomis, diz que com Pelé a empresa viu uma chance de erguer seu produto em torno de alguém que eles acreditam representar as qualidades de autenticidade e desempenho em primeiro lugar que abraçam. (Fontes dizem que Pelé receberá uma participação das vendas em vez de uma comissão de licenciamento.) Skirrow acrescenta que nunca pensou que Pelé fosse estar disponível para trabalhar tão perto deles no desenho e marketing de uma chuteira. Mas, observa, "ele nào tem uma enorme quantidade de projetos em sua mesa neste momento".

A IMG está tentando mudar isso. Bruno Maglione, um vice-presidente da agência, diz que o potencial de Pelé para marketing continua alto, apesar de sua idade.

Mas imagem não é tudo. "Ele é uma lenda viva, mas isso só o leva até a porta dos consumidores", diz Ryan Schinman, que assessora empresas a respeito de marketing de celebridade. "É preciso sustentar isso com um produto superior."

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